Lucas Alvares, 5º Período de Jornalismo
Al Jolson, ator americano.
Al Jolson, um russo radicado nos Estados Unidos, cantou a Chicago da Grande Depressão como poucos. Em um de seus maiores sucessos, bradou para que os microfones mecânicos pudessem captar que nenhuma cidade simbolizava o cotidiano do “crack” quanto ela. Na Chicago do início do século, nasceu o cartunista Walt Disney, acusado até hoje de ligação com grupos ultraconservadores, ao mesmo tempo em que suas empresas, oitenta anos depois, são vistas como instrumentos de erotização precoce. Chicago de Punky, a Levada da Breca, Chicago de Jordan, Pippen e Rodman – três negros – que encantaram o Mundo com o melhor time de basquete que viu jogar... Chicago da crise, do caos e de gente, muita gente. Gente por todos os lados, e muito calor. E nem faz tanto calor assim. Chicago é uma cidade abafada, com quase cinco mil habitantes por quilômetro quadrado. Foi na Chicago cantada pelo russo Jolson, pintado de negro para interpretar um cantor de jazz em Holywood, que surgiu para a política mundial um dos mais surpreendentes fenômenos eleitorais da história. Barack Obama, quarenta e sete anos, saiu do limbo político tradicionalmente reservado aos excluídos para a chefia da bandeira mais influente do planeta. Com mais de um milhão de moradores de Chicago sob os pés em um discurso histórico proferido em uma madrugada, Obama não é mais um branco de rosto pintado. Tampouco um filho das massas que busca no uísque, no golfe e nas bolsas de valores o carimbo da superioridade intelectual. Até agora, o novo presidente dos Estados Unidos é de coerência admirável. Pai de família correto, aparenta ser espirituoso e cortês com seus interlocutores. Tem em si mesmo uma fé que chama a atenção, e que foi capaz de derrotar os caciques democratas – todos eles por Hillary – nas convenções do meio do ano. Foi também de sorte incrível ao contar com a escolha da histriônica Sarah Palin, candidata a uma das mais folclóricas presenças políticas do milênio, responsável pelo tiro de misericórdia na campanha de John McCain. Sarah, o atraso de saias, “traiu” o eleitorado conservador ao permitir que uma de suas filhas se perdesse ao Mundo e engravidasse do namorado. E, pois, a musa-beata será avó de um filho de mãe solteira. McCain, veterano do Vietnã, representa o perfil de sempre. Ex-combatente, bem nascido, bem formado. Adepto indócil dos costumes “american way of life”. Excelente caráter, de acordo com seus conviveres. Porém, a representação republicana do que sempre foi feito. Feito e por anos eficaz. Porém, a depressão econômica que se avizinha, de efeitos tão imprevisíveis quanto Jolson e Disney imaginavam em 1929, pede um repensar quanto ao papel do Estado na economia. O personalismo político, fenômeno presente na eleição de Obama, volta com força total na medida em que se torna necessária a presença tentacular da máquina federal na busca de soluções para os problemas do cidadão comum, endividado e sem saber com que receita pagará suas contas no próximo mês. Em 32, o povo americano buscou no carismático Franklin Roosevelt, a personificação do capitalismo de Estado, uma forma de saciar o ronco do estômago. Hoje, quando bolsos, carteiras e contas amanhecem cada vez mais furados, o nome de Barack Obama parece ser o mais indicado para os desejos da classe-média norte-americana: um líder carismático que os guie à superação.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
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